29.1.06

No kissing

[Rockwell - No Swimming]

a R.

Era tudo novo para mim. Não havia entre nós paixão. Havia uma atracção, uma irresistível atracção pela transgressão. Nunca tal me acontecera, nunca mais voltou a acontecer. Nunca desejei envolver-me com ninguém por quem não estivesse de facto apaixonado. Mas contigo era diferente. Era tudo novo. Era a primeira vez. Havia aquela sensação irresistível de transgressão, espicaçada por comportamentos tantalizantes de parte a parte. Às vezes sentávamo-nos a ver televisão, em tua casa, e quando nos apanhávamos sozinhos dávamos as mãos. Assim ficávamos por vezes em silêncio, apenas olhando para a televisão, de mãos dadas, até alguém entrar. Então desenlaçávamos rapidamente as mãos. Não era necessário disfarçar mais nada. Mantínhamo-nos sempre pudicamente afastados um do outro. Apenas as mãos se juntavam. Eu ardia de desejo. Mas não passávamos daí. Jogámos este jogo ambíguo durante tanto tempo. Não desesperava, porém. Não deixei nunca de dormir por não concretizarmos esta estranha relação. Bastava-me esta inebriante sensação de transgressão. As mãos dadas que se desenlaçavam rapidamente quando alguém entrava. Não precisava de mais nada.

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