Uma garrafa de vinho. Sem rótulo. Nua. Escura. Parecia demasiado pesada nas tuas mãos fracas. Estendeste-ma com o teu sorriso ingénuo. Era a tua prenda de Natal. Tinhas sido tu a fazer aquele vinho, tinhas sido tu a engarrafá-lo, dizias com orgulho. Coloquei-a no armário da sala, na porta de vidro. Perguntaste-me várias vezes se o vinho era bom. Dizia-te sempre que só abriria a garrafa numa ocasião especial. Que a abriria quando estivesses bom, e então bebê-la-íamos juntos.
Ausência
Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.
Sophia de Mello Breyner
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