8.1.06

O livro gigante

[Rembrandt - Titus]

Gostava de livros. Não de algum tipo de livro em especial: gostava de qualquer coisa com forma rectangular e letras impressas, ainda antes de aprender a ler. Aprendi a fazê-lo sozinho, para escândalo e susto das educadoras e da minha mãe. Tinha 5 anos, e na minha sala de aula pré-primária havia um daqueles livros gigantes, com letras enormes, usados para ensinar os meninos da 1ª classe. Mas eu não podia esperar. Provavelmente fingia-me ocupado nas actividades para os meninos de 5 anos, enquanto na verdade prestava atenção à aula da 1ª classe, que funcionava na mesma sala. A minha mãe conta que aperfeiçoei a leitura quase em segredo, através dos jornais que se liam em casa. Aos 6 anos achei que não podia guardar aquele tesouro só para mim, e decidi revelá-lo a minha irmã, então com 5 anos. Renovado foi susto das educadoras e da minha mãe, quando perceberam o que se passava. Demasiado tarde: ela já lia os títulos dos jornais. Éramos inseparáveis, e os 13 meses de diferença faziam com que nos comportássemos como gémeos. Não podia deixar de partilhar com a minha irmã esta riqueza tremenda. Não me lembro de nada disto. Não, lembro-me do livro gigante - que se calhar não era assim tão grande.

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