29.1.06

O desejo

[Cézanne - L'enlèvement]
a R.

Dormia muitas vezes em tua casa. Em camas separadas, evidentemente. Não voltámos a beijar-nos, depois aquela noite no Frágil, quando sob o pretexto de querermos chatear um amigo comum acabámos a fazer aquilo que havia tanto desejávamos. Depois disso regressámos à mais ortodoxa relação de colegas de faculdade que saíam juntos de vez em quando. Falávamos algumas vezes sobre aquela noite, porém como se tivesse acontecido a outras pessoas, não a nós. Mas havia entre nós uma cumplicidade que fazia prever novas experiências. Dormia muitas vezes em tua casa. Tratavas-me como um miúdo. Eu tinha 18 anos, era realmente um miúdo. Mas tu tinhas quê, 19? Quando me deitava, vinhas ajeitar-me os cobertores, certificavas-te de que estava bem resguardado, e davas-me um beijo na testa ou na cara. Ias-te então embora, e deixavas-me a arder de desejo.

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