a C.
Encaminhou-se para a casa do seu amor. Parece piroso, dito assim. Não é. Era o seu amor. O seu mais que tudo. A luz da sua vida. Todos os lugares-comuns. Era a primeira vez que achava que amava. Era um rapaz simples. Rude, crescido e reprimido em cidade de província. Ingénuo. Muito. Era o amor da sua vida, e com ele passaria aquela noite. Véspera de tão importante dia. Bairro Alto. Frágil. Nova. Os sítios de sempre. Noite longa. Bem regada. Bem fumada. Bem beijada. Foram para casa tarde. Cheiro a álcool e tabaco. Deitaram-se enrolados um no outro. A ouvir música. MC Solaar. Lopes Graça. Beijos longos. Como se pareciam amar. Dormiam no chão. A cama revelara-se demasiado frágil para aguentar os dois. Não é amanhã a bênção das fitas da tua universidade? É. Adormeciam entre palavras sussurradas. Sem nexo. Quase de madrugada. Talvez tivesse sido melhor deitar-me mais cedo, pensou antes de adormecer. Afinal amanhã é um dia importante.
Acordou cedo. Quase não dormiu. Vestiu a roupa que tão cuidadosamente escolhera para a ocasião. T-shirt preta. Calças de ganga pretas. Botas DocMartens. Não, isso foi depois. Antes de as calçar deitou-se ao lado do seu amor, da luz da sua vida. Acordou-o com beijos suaves. Já te vais embora? Não, claro que não. Enrolaram-se, abraçados. Toda a manhã. Sussurrando palavras tolas. Trocando beijos preguiçosos. Chovia. Então riu-se sem motivo aparente. De que te ris? Dos parvos vestidos de Drácula, ali a abanarem as fitas, debaixo de chuva. E eu aqui, contigo. Amo-te tanto. Já imaginaste o cardeal, todo encharcado? E se vem uma rajada de vento e lhe leva o chapelinho? Riam, felizes, entre beijos. Assim se deixaram ficar até a fome os obrigar a levantar. Aproveitando a manhã cinzenta. Era um dia importante. Acordavam juntos. Pela primeira vez.
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