Acossado. Leão acossado. Como me comportei no comboio... Os desafios. Acossado por gente que não era a minha. Gente que se calhar, afinal, nem dera por mim. Tudo na minha cabeça. Coro de vergonha. Pensarão que é do calor. Vivera até então num isolamento quase absoluto em relação à minha geração. Leão solitário lançado para o meio da multidão. Não os percebia. Nunca soube como se comporta um grupo de rapazes. Porque nunca tive um. Não o lamento. Via-o agora pela primeira vez. Interpretava o seu comportamento normal como ataques à minha solidão voluntária. Mas não. Afinal ninguém me abordou. Fui eu. Eu. Lancei olhares de desafio. Mostrei as solas das minhas DocMartens. Idiota. Espreguicei-me para exibir o meu metro e oitenta e cinco. Que terão pensado de mim? Louco. Tão louco. Como sempre. Agora tudo é mais claro. Suando copiosamente no pátio, à espera de que o portão do quartel abra. Coração dói de tanto bater. Olho em volta. Já não me parecem ameaçadores. Vejo angústia disfarçada com risos nervosos. São iguais a mim, afinal. Estamos todos juntos. Unidos na ansiedade. Olhamos regularmente para o portão, apreensivos. Nunca mais o abrem. Que me farão? Vão humilhar-me. Gozar comigo. Acossado. Leão acossado. Pelos meus fantasmas.
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