13.5.06

Domi militiaeque V

[Baccio Bandinelli - Estudo de dois homens]

Como um murro no estômago. Regressou o pesadelo. Alinhados! Serão chamados três a três. Despem-se e dirigem-se ao médico. Não quero. Não consigo. Não consigo lidar com a nudez. Nem com a minha nem com a alheia. Não sou capaz. Quero ir embora. Vão-me humilhar. Examino mentalmente o meu corpo, centímetro a centímetro. Costas nuas contra as pedras geladas. Tremo de frio. De terror. O que tens? É o meu amigo moreno. Deve ter um nome começado por A. Estamos ordenados alfabeticamente. Ao meu lado. Não o tinha visto. Nada. Tenho frio. Chama-nos. A sala está aquecida. Há um vestiário discreto. Dispo-me. Olha, estás aqui! Um primo afastado. Não me lembro de como se chama. Olhamos embaraçados um para o outro, mantendo os olhos bem levantados. Adeus, até à próxima. Veste-se rapidamente e sai. E agora. Não sou capaz. Não consigo sair daqui. Por favor. Poupem-me a isto. O senhor aí, faz favor de se despachar. Humilhação terceira. Saio e sento-me no banco onde está o meu amigo moreno e outro rapaz. Sou o último a ser examinado. Não reparam em mim. Alívio. Endireite as costas homem. Não consigo, tenho um problema de coluna. Escoliose. Muito bem. Já pensou em ir para os Comandos? Tem corpo para isso, homem.

*


Acabou. Só falta sabermos os resultados. Não tenho qualquer esperança. Serei dado como apto. Até me querem nos Comandos. Apesar da falta de força. Isso exercita-se. Não quero. Somos chamados um a um. Espera-nos, numa salinha pequena, um oficial. Pergunta-me se quero fazer o serviço militar. Não. Mas está apto, vai ter de o fazer. Marinha? Exército? Força Aérea? Exército. Dura menos tempo. Não está interessado em ingressar nos Comandos? Não. Estamos conversados.

*

Apto. A palavra que não queria ouvir. Mas que sabia inevitável. Devia estar em desespero profundo. Não. Tranquilo. Feliz, até. Acabou. Dentro de horas estou em casa outra vez. Acabou. O pesadelo de tantos anos acabou. O pesadelo que não o foi.

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