1.5.06

Peregrinatio mediolanensis VIII

[Pontormo - Rapaz nu sentado]

Tenho medo de balneários. Despir-me diante dos outros. Não consigo. Nem vê-los. Cabeça baixa. Bem enrolado na toalha. Cortei-me a fazer a barba. É um golpe fundo. Espero que ninguém tenha visto. Passeiam-se nus, parecem não dar por mim. Ou estão todos a olhar para mim. Ali, toalha furiosamente entolada à volta da cintura, a tentar conter o sangue que jorra sem parar. Hello, where are you from? É comigo? Sem que tivesse dado conta, o balneário tinha-se acalmado. Agora só lá estou eu, com um bocado de papel higiénico comprimido contra a bochecha sangrante, e um rapaz nu, acabado de sair do duche, rindo para mim. Portugal. Ah, eu do Brasil. Já tinha percebido pelo sotaque. Vinha sozinho. Como eu. Percebemos que só nos tínhamos um ao outro, e ainda por cima falávamos a mesma língua. Tacitamente decidimos tornar-nos amigos inseparáveis, pelo menos até amanhã. Amanhã ele parte para França. Sinto um enorme alívio. Agora tenho alguém. Companhia.

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