18.5.06

As velhas

[Vermeer - Mulher segurando balança]

Duas velhas muito velhas. Em silêncio. Bonitas. Bem arranjadas. Mas muito velhas. Sentadas lado a lado. Olham em frente, para lado nenhum. Pareceriam gémeas, não fosse uma ser muito mais alta do que a outra. Não falam. Alheadas do rebuliço que as envolve. Uma brinca com uma garrafa de água vazia. A outra tamborila a mesa com os dedos. Não estão aborrecidas. Fazem companhia uma à outra. Talvez se conheçam há muito tempo. Muito. Muito velhas. Muito. Talvez irmãs. Uma vira-se lentamente para a outra como se fosse dizer alguma coisa. Mas não. Sorri e regressa ao exercício repercutório. Olha em frente. Não sei para onde. A outra estica os lábios finos contornados a lápis. Sorriso invisível. Por momentos larga a garrafa de água vazia. Depois retoma o olhar vago. Em frente. Tranquilas. Duas velhas muito velhas. Muito. Mesmo muito. Não precisam de palavras.

1 comentário:

***Gui*** disse...

Esse nível de compreensão e de intimidade deve ser o sonho de qualquer pessoa...
Companhia e cumplicidade...

Peço desculpa se te maço com os meus comentários constantes... não é por mal!

Beijinhos ***