1.5.06

Peregrinatio mediolanensis XI

[Hayley Lever - Barcos no porto]

Ventimiglia tem uma praia. É para lá que me dirijo. Tenho de esperar seis horas pelo comboio que me há-de levar a Irún. Mas agora isso não me importa muito. Vou-me embora. A cinzenta Milão já ficou para trás há muito tempo. Vou para casa. A praia não tem areia, apenas grossos calhaus negros. Pouco importa. O Mediterrâneo, azul forte, marulha docemente. Descalço-me e sento-me à beira-mar, com os pés dentro da água morna. Não há ondas. Apenas um suave vai e vem. Tudo parece tão distante. Agora a minha viagem começa a fazer sentido. Naquele fim de tarde quente, os pés lavados pela tépida água salgada, Milão já não me parece tão medonha. Rio, lembrando-me da mendiga genovesa que, na viagem para Milão, me amaldiçoou por não lhe ter dado as liras que insistentemente implorava. Passam-me pelos olhos todos os momentos vividos durante aqueles poucos dias. Agora tudo parece menos carregado. Foi, realmente, uma viagem iniciática. Não como a imaginei, é certo. Sinto que tinha de ter passado por tudo aquilo, que agora me parecia quase nada. Sinto-me um homem novo. Um homem. O Sol desce, começa a arrefecer. Mas eu deixo-me ficar, pés na água. Em paz. Finalmente.

Explicit. Deo gratias.

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