1.5.06

Peregrinatio mediolanensis X

[Piranesi - Torre redonda]

Aceno, no cais de embarque. Não. Tenho a mão levantada, mas não a movo, não aceno verdadeiramente. Mais parece um sinal de súplica. Não vás. Não me deixes de novo sozinho. Robson parte no comboio, para França. Eu decidi que volto para casa. Não tenho forças. Não era disto que eu estava à espera. Não é a viagem iniciática com que sonhava. Mochila às costas, resta-me esperar até ao fim do dia, e apanhar o comboio para Ventimiglia. Daí para Irún, e finalmente para Lisboa. Faço estes cálculos mentais e sinto-me tomado de desespero. Ainda falta tanto. De novo me arrasto por Milão. Ruas desconhecidas. Feias. Cinzentas. Gente antipática. Agressiva. Olham-me como se não estivesse ali, à sua frente. Pergunto a uma jovem onde há um jardim onde possa descansar. Vira lentamente a cabeça e olha através de mim. Como se tivesse ouvido algo e estivesse a tentar perceber de onde vinha o som. Depois continua o seu caminho, indiferente. Cinzenta. Caras fechadas, por todo o lado. Céu de chumbo. Desisto de tentar interagir com este povo. Até agora não consegui que alguém me respondesse a uma pergunta. Reagem todos da mesma maneira, como se programados para o efeito. Olham através de mim durante uns segundos, voltam a cara, e seguem o seu caminho. Por fim decido que o melhor sítio para descansar e fazer horas é o Duomo. Ali me sento, aliviado do peso da mochila, em posição de oração. Sou ateu. Mas quero descansar. Pensar. Correm-me lágrimas em torrente, mas não choro. Quantas horas ali terei passado, não sei. Ao fim do dia entro no comboio para Ventimiglia. Cabeça de fora da janela, lanço um último olhar a Milão. Até nunca mais.

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