9.7.07

Aquilo que não se pode contar. 4 . Minhocas oculares

[Bosch - Tentação de Santo Antão (pormenor do painel lateral direito)]

Arturo preguntó: Cómo se le ocurrió el nombre?­ A mí no se me ocurrió. Lo puso un periodista, por error. En realidad, el Nóumeno es lo que descubre cada persona que entra. Y, a propósito: ¡Adelante, señores, pasen! Por cincuenta centavos conocerán el último adelanto del progreso. Tal vez no tengan otra oportunidad.
Adolfo Bioy Casares, Nóumeno

esquecer. Há umas drogas que fazem isso. Drogas daquelas dos médicos. Das boas. Porque há drogas boas. Que nos fazem esquecer. E se eu me esquecesse daquilo. Mesmo sabendo que. É que o meu problema é saber. Se eu não soubesse. Se aqueles pontos brilhantes não passassem de extravagâncias vasculares nos olhos. Coisas do meu interior das minhas entranhas. Como aqueles zumbidos nos ouvidos. O sangue a passar. Normal. Foi o que me disse o médico quando me queixei. Porque havia aqueles silêncios nocturnos. Quando nem gente nem máquinas. Só o silêncio pegajoso do nada. E os ouvidos zzz zz z. Depois há um cão que ladra e o coração dá um salto. Depois pára. O zumbido. É que eu às vezes já não sei o que é normal. Como aquelas sombras filiformes que me passam às vezes pela vista. É normal. Mas se eu não soubesse que era normal ficava assustado. Pensava que ia cegar. Que tinha bichos nos olhos. Minhocas oculares. Que mos comiam devagar devagarinho. E um dia eu acordava sem eles. Mas não. Não há minhocas oculares. Às vezes penso. Será que. Não. Eu sei que não são extravagâncias vasculares. Porque eu vi. E eu só queria esquecer aquilo que eu vi. Porque se eu me esquecesse. Era como se aqueles pontos brilhantes fossem coisa normal. E eu não tinha medo. Fechava os olhos e dormia sereno. Mesmo se não acordasse. Mesmo se

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