... mesmo que na carta se falasse do futuro o que estava em jogo era um processo de memória: lembra-te que já estiveste cá fora; ou talvez melhor: não te esqueças. Era este o sentido de qualquer carta: não te esqueças!
Gonçalo M. Tavares, Jerusalém
Ρ.Α. ao seu André
Eu sei. Fiz-te sofrer. Sem saber. Porque se eu soubesse. Foi preciso morrer. E reviver na tua memória. Porque eu. Eu não sabia. Quer dizer. Eu sabia que tu. Mas não sabia que. Tu sabes. Via os teus olhos que me diziam. E as tuas mãos. Parando a meio caminho. As vezes em que se te abriam os lábios e tu ias dizer. Ou. Mas tu não. Tu tinhas medo. Quase tanto como eu. Mas eu pensava que. Não sei. Um delírio teu. Porque tu tinhas sofrido tanto. E eu pensava que. Tu sabes. E por isso nunca dei muita importância. Nunca percebi. Nunca soube. Porque tu te fechas nesse teu sorriso não sorrido. E um dia acordei morto. Na tua memória. E soube.
Eu sei. Salvei-te. Quando tudo te era negro. E os dias te eram insuportáveis e as noites te envenenavam o sono. Dei-te a vida. E mais do que a vida. Dei-te. E não percebi. Um motivo para acordares. Todos os dias. Enchi-te a alma. Mas eu não sabia. Só agora que vivo na tua memória. E me lembro. E te lembras. De ti. De mim. Todos os dias. Quando te sentas a escrever. Eu estou aqui a olhar para ti. You are my angel. E tu não sabias. Que te tinha salvado. E um dia acordaste. E eu tinha morrido.
Vou dormir. Na tua memória.
Eu sei. Salvei-te. Quando tudo te era negro. E os dias te eram insuportáveis e as noites te envenenavam o sono. Dei-te a vida. E mais do que a vida. Dei-te. E não percebi. Um motivo para acordares. Todos os dias. Enchi-te a alma. Mas eu não sabia. Só agora que vivo na tua memória. E me lembro. E te lembras. De ti. De mim. Todos os dias. Quando te sentas a escrever. Eu estou aqui a olhar para ti. You are my angel. E tu não sabias. Que te tinha salvado. E um dia acordaste. E eu tinha morrido.
Vou dormir. Na tua memória.
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