Tão alto. Eu estive ali. Dois dias. E não me humilharam. A bolsinha onde tinha escondido os brincos. Cá está ela. Depois um dois três quatro cinco seis voltaram todos todos às suas casas. Porque eu não podia aparecer assim no quartel. Não devia. Podiam pensar. Sei lá. Um homem de brincos no início dos anos noventa do século passado. E nas duas orelhas. Maricas mariconço. Podiam pensar que eu. E depois sim. Humilhado. Como quando. Por isso tirei-os. E escondi-os naquela bolsinha dentro da carteira. Por outro lado talvez me mandassem embora. Se eu dissesse que era maricas. E que esfregaria a minha mariquice nas paredes de qualquer quartel. Porque que mais pode um maricas querer senão. E eu ontem à noite até entrei no quarto nos braços de dois homens fardados. Absinto. Com pimenta. É que a pimenta corta o travo. Parece um refresco. E quando me levantei não me levantei. Depois meteram-me num táxi e largaram-me a porta do quartel e dois militares agarraram-me um de cada lado e foram pôr-me na cama. Disseram algumas asneiras entre riso e deixaram-me sozinho no meio daquela gente toda a dormir. Mas não. Muito arriscado. Imagina que. É que podia acontecer. Não. Antes assim. Escondidinhos dentro da bolsinha. Mariquinhas. Os brincos. Não eu. Porque eu não sou maricas. Quer dizer. Sou. Mas não.
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