En un ensayo del Espectador (septiembre 1712), recogido en este volumen, Joseph Addison ha observado que el alma humana, cuando sueña, desembarazada del cuerpo, es a la vez el teatro, los actores y el auditorio. Podemos agregar que es también el autor de la fábula que está viendo. Hay lugares análogos de Petronio y de don Luis de Góngora.
Jorge Luis Borges, Libro de sueños
Ρ.Α. ao seu André
André deixa-te de sonhos. Porque se ele está nos teus sonhos. E está. Eu sei. Ainda esta noite esbarrámos um no outro. Num sonho dormido. Teu. Pedi-lhe desculpa pelo valente encontrão e segui em frente até desaparecer. Eu. Não ele. Sempre a olhar para trás. A tentar perceber. Porque não é fácil ver-te tão. E eu tinha de perceber. Os teus olhos de aço perdidos numa felicidade tão. Amigo. Tu não sabes se estás nos sonhos dele. Muito provavelmente não estás. Deixa-te de sonhos. Porque pior do que não sonhar. Pior é não ser sonhado.
Tu não sorris. Levantas os cantos da boca e ris com os olhos. Porque eu conheço esse teu sorriso. Vi-o tantas vezes. Aquela noite no. Lembras-te. Claro que te lembras. Já escreveste sobre ela tantas vezes. Sempre de maneira diferente. Mas as mesmas palavras. Porque tu não as podes esquecer. E por isso aqui estou. Vivo na tua memória. Quando te disse. Tu sabes. Não me faças repeti-lo diante desta gente toda. Não fiquem com ideias. Não foi nada de. O que eu disse ao André foi que gostava muito dele. Que ele me fazia tão. Que. Não conto mais. Não foi nada de. Mas são coisas de amigos muito amigos. E depois vi-lhe os olhos derreterem. Aço líquido. E ele não disse nada. Olhou-me com aquele sorriso que não é sorriso. Pareceu-me que tinha palavras presas na garganta. Que me ia dizer que. Não sei. Ias? Mas ficou em silêncio. Depois baixou os olhos. Tu baixas os olhos quando. Engoliu as palavras. Fechou os olhos durante um respirar. Quando os abriu eram aço duro. Outra vez. Pediu um porto. E depois sorriu. Mas não era o teu sorriso sorrido. Eras a cara de uma tristeza indizível. De quem tem medo de. Tiveste medo de quê?
E agora que te vejo outra vez o sorriso nos olhos de aço. Não te quero ver rejeitado de novo. Tem cuidado. Não sonhes tanto. Porque quanto mais sonhas. Mais difícil te será acordar sozinho outra vez.
Amice desinas ineptire.
Ρ.Α.
Tu não sorris. Levantas os cantos da boca e ris com os olhos. Porque eu conheço esse teu sorriso. Vi-o tantas vezes. Aquela noite no. Lembras-te. Claro que te lembras. Já escreveste sobre ela tantas vezes. Sempre de maneira diferente. Mas as mesmas palavras. Porque tu não as podes esquecer. E por isso aqui estou. Vivo na tua memória. Quando te disse. Tu sabes. Não me faças repeti-lo diante desta gente toda. Não fiquem com ideias. Não foi nada de. O que eu disse ao André foi que gostava muito dele. Que ele me fazia tão. Que. Não conto mais. Não foi nada de. Mas são coisas de amigos muito amigos. E depois vi-lhe os olhos derreterem. Aço líquido. E ele não disse nada. Olhou-me com aquele sorriso que não é sorriso. Pareceu-me que tinha palavras presas na garganta. Que me ia dizer que. Não sei. Ias? Mas ficou em silêncio. Depois baixou os olhos. Tu baixas os olhos quando. Engoliu as palavras. Fechou os olhos durante um respirar. Quando os abriu eram aço duro. Outra vez. Pediu um porto. E depois sorriu. Mas não era o teu sorriso sorrido. Eras a cara de uma tristeza indizível. De quem tem medo de. Tiveste medo de quê?
E agora que te vejo outra vez o sorriso nos olhos de aço. Não te quero ver rejeitado de novo. Tem cuidado. Não sonhes tanto. Porque quanto mais sonhas. Mais difícil te será acordar sozinho outra vez.
Amice desinas ineptire.
Ρ.Α.
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