La curiosidad pudo más que el miedo y no cerré los ojos.
Jorge Luis Borges, There are more things
Depois pus-me de joelhos em cima da cama e tudo mudou. A luz era a mesma. Filtrada pelas listas da cortina. Laranja. Vermelho. E dourado. Mas havia um cheiro novo no ar. Já não era o pó nem o bolor nem o papel. Era pegajoso. Húmido. Não era um cheiro animal. Era. Não sei. Era diferente. Laranja. Cheirava a laranja. Não ao fruto. À cor. As cores não cheiram. Mas aquilo era cheiro a cor de laranja. Como o calor. Um calor cor de laranja que me entrava pela pele adentro. Ou então. Talvez não fosse um cheiro a cor de laranja. Mas quando fecho os olhos e me tento lembrar. Pó. Laranja. E o toc toc toc. Que agora era um zumbido. Quase um riso baixinho. Anda cá sobe não tenhas medo. Não não. Isto não é uma história de fantasmas. Já disse. Mas eu ouvi aquilo. Dentro da minha cabeça. Ou era eu que. Ou era aquilo. E o meu coração parou. Pus a mão no peito e não o sentia.