17.6.07

Bloomsday at Lisbon


Stately, plump Buck Mulligan came from the stairhead bearing a bowl of lather on which a mirror and a razor lay crossed. A yellow dressinggown, ungirdled, was sustained gently behind him by the mild morning air. He held the bowl aloft and intoned: - Introibo ad altare Dei. Halted, he peered down the dark winding stairs and called out coarsely: - Come up, Kinch! Come up, you fearful jesuit!
James Joyce, Ulysses

Dezasseis de Junho de dois mil e sete em Lisboa.

Rectas facite semitas eius. Mais direitas ainda. Mais ainda. E esta chuva triste. Porque nunca se viu Junho assim. Eu nunca vi. Junho de chumbo. Sol atrás. Se lhe dissesse. Não sei. Talvez. É que isto não é vida. Outra vez. Outra vez não. É tão fácil. Dizer. O não é o presente. O não já eu tenho. Ainda bem que não trouxe os sapatos de sola gasta. Pneus carecas. Como daquela vez. Escadas molhadas e pum. Pum pum pum. Podia ter partido a coluna. Ainda pensei calçá-los hoje. Mas com este tempo. Maldito tempo. Maldita calçada portuguesa. Porque no alcatrão ou no cimento não. É só na pedra lisa. Não me sai do pensamento. Na altura certa. Arrebatado. E agora é diferente. É sempre diferente. Se eu pudesse escolher. Escolhia a mesma coisa. Digo eu. Porque não posso escolher. Porque só conheço isto. Antes mal com o que conheço. E se não. Não não.

Este já tenho este já tenho. Este não quero. Este já tenho. Este é chato. Este já tenho. Este deve ser daqueles. Daqueles para ler no metro. Eu leio Joyce no metro. Percebes o que quero dizer. Percebo. Daqueles que não obrigam a pensar. Este é bom. Mas não vou ter tempo. Quando olho para as minhas estantes e vejo quantos me falta ler. Nunca conseguirei. Vivesse eu duzentos anos. Este já tenho. Este quero se encontrar o original inglês. Este deve ser insuportável. Porque traduções só de língua que não saiba. Alemão ou chinês ou russo. Ainda podia ir ver a Gaivota outra vez. Havia alguém que dizia que. Tanto que. Que em férias só lia coisas que. Outro que. Que não obrigassem a pensar. Eu não consigo entender isto. Porque se não obrigar a pensar. De que serve. Um livro que não obrigue a pensar. Um livro para o lixo. Quem pode tirar prazer de não pensar. Gay & lesbian. Uma idiotice. Morte em Veneza será gay. Platão. De que serve um livro para gay & lesbian. Bom bom. É como os desfiles. Sum quod sum es quod es. E os outros nada têm que ver com isso. É que se eu quero esquecer-me dos problemas do dia não faz sentido que leia algo que não faça pensar. Porque se não faz pensar então eu volto a pensar nos problemas do dia. Este. They were young, educated, and both virgins on this, their wedding night, and they lived in a time when a conversation about sexual difficulties was plainly impossible. McEwan. Vou levar este. Onde estás. O que estás a fazer agora. Estou a pensar em ti. Queria estar contigo. Gostei tanto do In Between the Sheets. Aquelas noites frias em Queluz. À espera dos Contos do Imprevisto. Não encontro o Dahl. Bolas.

Onde está a Lhasa não está tem de estar. Lisa Gerrard. Bom bom bom. Tinha de ser antes. E se levasse a Lisa. My precious love. Mensagem tua será. É que o não está garantido. Sim sim. Não há Lhasa. Impossível. Melhor não entrar na clássica. Ir embora. Quando ia todos os dias àquela discoteca tão pequenina. Havia sempre uma caixa de música antiga. Ora muito bom dia tenho aqui coisas novas tão boas quer ver. Não não. Vou-me embora. Já chega. Ora adeus. Quantos terei comprado. Uns trezentos. Depois quando me fui embora achei que devia ir avisá-lo. Porque o senhor mandava vir coisas a pensar em mim. Estarás a pensar em mim. E eu fui lá e disse bom dia é só para dizer que me vou embora não mande vir mais coisas a pensar em mim.

Não devia. Faz mal. Engorda. Hm. Bira بيرة . Gostava de saber mais árabe. Como se dirá quero uma cerveja preta. Preta é 'asswada أسودة . É melhor não inventar. Porque os franceses dizem vinho vermelho e a gente vinho tinto e os gregos vinho preto. Os teus olhos são parecidos com os dele. Os dele são mais bonitos. Se calhar não são. Mas de ti não gosto não te conheço. E dele tanto tanto tanto. Por isso os dele são mais bonitos mesmo que não sejam. E estás a olhar para mim porquê. Não não. Agora não. Agora não tenho olhos para mais ninguém. Vou escrever-lhe. Dizer-lhe. Mas estas coisas não se dizem numa mensagem. Mais uma por favor. Já está. Já já. Já está. Não posso. Não devia. E agora.

Tanta noite na chuva. O caminho não acaba. Não me doem as pernas. Andaria mais duas dezenas de quilómetros. Arena tan suave. No es blanca sino amarilla. Amariblanca. Pero da igual. Iria por aqui. Agora não parava agora continuava. E chegava a meio da noite. Que importaria. Bom bom deixemo-nos de sonhos. Nunc est dormiendum. Talvez amanhã. Não sei. Já não sei nada. Só sei que. Sim.

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