5.6.07

A doida de Génova

[Pieter Bruegel o Velho - Pedintes]

«TRIGÓRIN - Nada de especial, apontamentos... Surgiu-me um tema (Guarda o bloco de apontamentos) Um tema para um pequeno conto: na margem do lago vive desde a infância uma rapariga, igual a si; gosta do lago como uma gaivota, é feliz e livre como uma gaivota. Mas chegou um homem, por acaso, que a viu e, de passagem, a matou como a esta gaivota.»
Tchékhov, A Gaivota, ed. Relógio d'Água


Parecia doida. Costas dobradas agitando o cabelo tão negro. É doida e é desgrenhada. Entaramelava-se. Não lhe entendo a língua. Mão estendida. Pede. Não tenho nada. Não me entendes. Nem eu a ti. Abanando a cabeça. Eu e ela. Não lhe vejo os olhos. Porque os tem pregados no chão da carruagem. Não. Como se diz não. No. Niente. Depois parou de agitar a cabeça e lançou-me os olhos. A mão estendida agora não pede mas dá. Lança. Está doida. Não lhe entendo a língua. Mas sei o que está a dizer. Deito os olhos no livro e espero que se vá. Não leio não vejo nada. Senão aqueles olhos negros de fúria.

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