24.6.07

Les sirènes (II)

[Bosch - O carro de feno (pormenor do painel central)]

you sure you want to be with me
I've nothing to give
won’t lie and say this lovin's best

we'll leave us in emotional pace

take a walk taste the rest
no take a rest
(cantado por Massive Attack)

Foi a "penalties" e o Brasil ganhou. E eu tinha um aperto apertado na garganta. Não era por causa da bola. Porque eu e a bola. Quando é o Sporting. Aí sim. Aperta-se-me a garganta e a barriga e tudo o resto. Até choro. Mas não era o Sporting. Portanto não era a bola. Era porque. Dormir com o peito tão apertado. Não. Não pode ser. Não se pode dormir assim.

O bloco de notas na mão. Não para tomar notas. Para olhar o céu laranja. Laranja do Sol que desce. E o azul negro do mar furioso. Mas sim. A ideia primeira era escrever. Deitar-me no papel e esquecer. Agora não levo blocos de notas. Escrevo na memória e chego a casa e descarrego no computador. Há um banco de madeira vermelha e branca. Mau agoiro. O cheiro do mar. Tarde moribunda e aquele aperto na garganta apertado não sai não relaxa. Ainda há quem saia lento da praia. Passo impreciso indeciso de quem não quer deixar a areia e o mar. Está agora no céu aquela cor. Azul negro de chumbo. A hora em que o dia é noite.

Rebolam-me os olhos no horizonte. À procura de quê. À procura de quem. Ainda vermelhos ardentes de ontem. Não da bola. Porque se fosse o Sporting. Mas era o Brasil. E a Itália. Je pars. Tu pars. Fais gaffe aux sirènes.

Sem comentários: