6.6.07

Epistolário XVII

[Hunter - Backlighted beech tree]

«When he dialed his home number and Rüya picked up right away, he was shocked. 'You're awake already?' He was happy to hear that Rüya was no longer wandering through the garden of her memories and was back in the real world with everyone else.»

Orhan Pamuk, The Black Book
(original: Kara Kitap.

Tradução de Maureen Freely)


Ρ.Α. ao seu André.

Recebi a tua carta. Não não. Não vou comentá-la. Tu pediste que a deixasse secreta. Não estava à espera. É que te via tão. E agora. Strong as a ship and wise as a whale. Deixas-me feliz. Como dantes. Lembras-te. Para que foste tu. Não posso deixar de me surpreender. A tua força é impressionante. Não não. Não me refiro aos trinta e dois quilos. Quando passas aos trinta e seis. Amanhã. Tem calma. Trinta e dois ontem. Trinta e dois hoje. Tem calma. Mas não falava dessa força. Da outra. Daquela que te enche agora de tranquilidade. Vejo-te de novo tão sereno صديق tão. Não sei. Esses olhos de aço.

E agora. Há quem te diga inconstante. Ainda que não sejas tu quem lança ardentes juras apaixonadas pela terceira vez em mês e meio. Oh dear... Onde é que li isto. Já sei. McEwan. Mas não. Prometemos não falar mais disso. Encerrado. Para ti está para mim está. Tu és constante. Sabes o que queres. Sempre soubeste. E o que não queres. Mesmo se às vezes te deixas cegar. Mas também Saulo cegou. E depois voltou a ver.

E agora. Agora estás de pectus livre. Bom. Livre livre não. Eu estou lá. Mas eu. Nada. Morto. Tu sabes. E aquela estação de comboio. Há quê. Dezasseis anos. Não sei. Não me lembro. Ainda lá está. Nunca de lá saiu. Não não. Não estás de pectus livre. Limpaste-o. Mas não o vazaste. Não queres. Não deixas. Porque el alma prende fuego cuando deja de amar. E agora.

Adoro-te.

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