24.5.07

A black iron pot

[Bosch - Tentação de Santo Antão (pormenor do painel central]

all my veins and bones
will be burned to dust
you can throw me into
a black iron pot
and my dust will tell
what my flesh would not
(cantado por Lhasa de Sela)

Puluis sum et in puluerem reuertar. Não. Não pó. Cinza. E não tem de ser into a black iron pot. Pode ser num frasco de vidro daqueles grandes. Porque eu tenho muito para queimar. Depois chocalha-o bem bem para teres a certeza de que estou morto. E para me ouvires uma última vez. Vês. Sou eu. Sempre funda a minha voz. E calma. Aterciopelada, me decían. Ouves. Ouve. Terei ainda tanto para dizer. Por isso chocalha o frasco. Se ainda me quiseres ouvir. Chocalha. Mas com cuidado não vá a tampa saltar. Fecha-o bem bem fechado. Para eu não voltar a sair. E me molde de novo nas cinzas molhadas de sal. Depois aperta-o no peito. Vai até àquela árvore. Sim. Essa. Abre um buraco fundo fundo fundo. Terá de ser de noite. Não tens medo pois não. Porque de dia não te deixariam. Fundo fundo. Para não me desenterrarem por acaso. Depois abre o frasco dentro do buraco e despeja a cinza e cobre tudo com terra muita terra. Porque assim se um dia por acaso me desenterrarem. Se um dia. Já não me voltarão a encontrar. Misturado na terra. Pó e cinza. Se tiveres medo abre o frasco e despeja-me na sanita. Hombre me da igual.

1 comentário:

Glaukwpis disse...

Vais ver qu da cinza te transformarás em Fénix ;)
Abraço humanístico.