Ah, so pleasantly we live
Without enmity among those with enmity.
Among humans with enmity
Do we dwell without enmity.
Dhammapada, XV, 197
(tradução de John Ross Carter e Mahinda Palihawadana)
Without enmity among those with enmity.
Among humans with enmity
Do we dwell without enmity.
Dhammapada, XV, 197
(tradução de John Ross Carter e Mahinda Palihawadana)
Ρ.Α. ao seu André
Gostava tanto de ter saudades tuas. Mas aqui, como já te disse, não há saudades nem tristezas nem alegrias nem coisa alguma. Só nada. Mas eu estou contigo. Vejo-te aninhado nos lençóis salgados de lágrimas que já não saem na lavagem. E passo a minha mão de nada pela tua cabeça tão querida. Se eu tivesse memória não me esqueceria de ti. E não te deixo nem te deixarei. Serei tábua de salvação. E queria ser de novo o teu barco. Fico tão contente de ver que te levantas e olhas para ti. E que vês o que eu vi e o que eu vejo e o que nem todos conseguem ver. Abandona de vez esse barco que te deitou borda fora tão inesperado. E eu sinto que estás pronto. Que não vais repetir o erro de há dez anos. Porque, amigo, não se pode ter sempre o melhor de dois mundos. Não estou a falar de ti. Naturalmente. Qui habet aures audiendi audiat. Olha. Já falo latim. É o que dá tantos anos na tua memória. Arma uirumque cano. Quando der por mim saberei grego. E árabe. Gostava tanto de saber árabe como tu. Criava músicas com nomes em árabe. Lembras-te de quando passávamos horas a ouvir as coisas que eu fazia. Eu sei que ainda sabes pouco. Mas já sabes muito mais do que eu.
Mas eu lanço pedrinhas à tua janela todas as noites. Sempre que adormeces e me lanças as tuas saudades. Porque eu sei que mas lanças todas noites. Eu sinto. Todos os dias. E eu vou ver e és tu. Mas não precisava de ir ver. Eu já sabia que eras tu. Porque as tuas saudades são diferentes das outras. Não são melhores nem piores. Porque não há saudades melhores nem piores. São diferentes. São tuas. Têm o teu cheiro. E eu não preciso de ir ver para saber que és tu. Mas eu quero ir ver. Porque te queria ver outra vez. Passar outras tardes como aquela. Sentados em frente um ao outro. Tabuleiro de xadrez com peças imóveis em silêncio. Porque o importante era a presença. E eu lia-te os olhos e sabia. Mas eu não estava pronto. Tu sabes. Era tão difícil. E eu não era capaz. Eu também era homem de carne. Agora só osso. Com medos e vergonhas. Como tu. E adorava-te também por isso. Por me respeitares como eu te respeitava. Eu sei que tu só soubeste naquele dia horrível. Horrível para os outros. Para vocês. Para mim tão bom. Livre por fim. E que te arrependeste de teres voltado a quem não. Ouve-me. Eu já não vou a tempo de corrigir os meus erros. Tu ainda tens tanto tempo. Não o desperdices.
Percebi que não me queres ainda falar disso. Um dia dir-me-ás pois se choraste em vão. Eu tenho já a minha ideia, depois de tudo o que me escreveste. Mas não ta conto. Não é preciso. Tu habes oculos legendi. Et mentem cogitandi. Só tu, amigo, para me pores a escrever latim. Língua que desconheço. Promete que para a próxima me pões a escrever árabe. Ou grego. Alguma coisa estranha que ninguém perceba. Nem consiga ler.
Agora trata de encontrares quem te mande pedrinhas verdadeiras à janela. Porque eu estou morto. Eu não sou. Eu não estou. Só na tua saudade. E minha. Que não existe. Porque eu não sou. Eu não estou.
Teu,
Ρ.Α.
Mas eu lanço pedrinhas à tua janela todas as noites. Sempre que adormeces e me lanças as tuas saudades. Porque eu sei que mas lanças todas noites. Eu sinto. Todos os dias. E eu vou ver e és tu. Mas não precisava de ir ver. Eu já sabia que eras tu. Porque as tuas saudades são diferentes das outras. Não são melhores nem piores. Porque não há saudades melhores nem piores. São diferentes. São tuas. Têm o teu cheiro. E eu não preciso de ir ver para saber que és tu. Mas eu quero ir ver. Porque te queria ver outra vez. Passar outras tardes como aquela. Sentados em frente um ao outro. Tabuleiro de xadrez com peças imóveis em silêncio. Porque o importante era a presença. E eu lia-te os olhos e sabia. Mas eu não estava pronto. Tu sabes. Era tão difícil. E eu não era capaz. Eu também era homem de carne. Agora só osso. Com medos e vergonhas. Como tu. E adorava-te também por isso. Por me respeitares como eu te respeitava. Eu sei que tu só soubeste naquele dia horrível. Horrível para os outros. Para vocês. Para mim tão bom. Livre por fim. E que te arrependeste de teres voltado a quem não. Ouve-me. Eu já não vou a tempo de corrigir os meus erros. Tu ainda tens tanto tempo. Não o desperdices.
Percebi que não me queres ainda falar disso. Um dia dir-me-ás pois se choraste em vão. Eu tenho já a minha ideia, depois de tudo o que me escreveste. Mas não ta conto. Não é preciso. Tu habes oculos legendi. Et mentem cogitandi. Só tu, amigo, para me pores a escrever latim. Língua que desconheço. Promete que para a próxima me pões a escrever árabe. Ou grego. Alguma coisa estranha que ninguém perceba. Nem consiga ler.
Agora trata de encontrares quem te mande pedrinhas verdadeiras à janela. Porque eu estou morto. Eu não sou. Eu não estou. Só na tua saudade. E minha. Que não existe. Porque eu não sou. Eu não estou.
Teu,
Ρ.Α.
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