25.5.07

Noite escura

[Fotograma de Noite Escura, de João Canijo]

Não há para mim outro amor nem tardes limpas
A minha própria vida a desertei
Só existe o teu rosto geometria
Clara que sem descanso esculpirei.
E noite onde sem fim me afundarei.

Sophia de Mello Breyner Andresen


A minha noite é escura. No tecto do meu quarto há estrelas que brilham. Não é figura de estilo. Eu não escrevo poesia. Eu não leio poesia. É a sério. Há estrelas que brilham. Daquelas que se compram e se colam e brilham como as nossassenhorasdefátima. É nome de mulher árabe. Fatimah. Aquele t tem de ser dito com a boca cheia فاطمة . Eu tinha uma nossassenhoradefátima quando era miúdo e acreditava em deuses e ovnis e civilizações perdidas. Se eu pudesse escolher um nome árabe seria Raxid راشد . E quando me deito elas bebem a luz do candeeiro enquanto leio e depois brilham e quando apago a luz enchem-me o quarto de luz. E agora vou-lhes dar de beber. Que me esperam na cama quatro miniaturistas turcos um deles a cegar. E não há estrela nossassenhoradefátima que ma ilumine.

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