1.5.07

Qui uenit ad me non esuriet

[Delacroix - Estudo de céu: Sol poente]

Era aquela hora em que o Sol bate com força na nuca. Como um martelo. E deixava cair os olhos no abismo e pensava e se eu fosse atrás deles. Dos olhos. Como um picador de gelo abrindo o osso. Ferve-lhe a cabeça inundada de calor mole pegajoso. E se desse um fim a isto. O beijo frouxo da espuma das ondas do mar lá em baixo. Esmagadas mortas contra a rocha. Salpicando preguiçosas o céu cor de lápis. Tanto sal. Basta. Passo em frente. Olhos pendurados no vazio acariciados pela brisa morna. E aquele Sol arrancando-lhe um a um os ossos do crânio doloroso. Estende um braço sobre o abismo medindo a distância. Punho cerrado como se quisesse agarrar o vazio e não o deixar fugir nunca mais. E agora é para o céu que solta os olhos. Abre a mão. E larga-o. O quê. larga o quê.

1 comentário:

ritagrama disse...

O excesso, evidentemente.
De quê. De espelhos.