à memória do Rui
when my family thinks
that I'm safe in my bed
from night until morning
I am stretched at your head
calling out to the air
with tears hot and wild
my grief for the girl
that I loved as a child
(anónimo irlandês do século XVII traduzido por Philip King)
Amanhã vou visitar-te. Porque tenho tantas saudades tantas tantas tuas. Nestas trevas que se adensam a cada dia. E sentar-me ao teu lado. Regar-te com as lágrimas que ainda não chorei. Dizer-te que gostava de te ter aqui outra vez. Para de novo me preencheres este vazio que me devora as entranhas me rasga a pele. Apertar-te a mão amiga e dar-te um beijo rápido na barba de três dias e pedir-te desculpa e ouvir-te outra vez dizer. Não faz mal. Somos amigos. É normal. E não mais sair do pé de ti. Sabes, agora passo os dias a ler. É como quando era pequeno e me fechava. Não me quero lembrar. No meu quarto enterrado em livros. Um dia imaginei. Já contei isto. Que me emparedava e morria. Emparedado com livros. Que tolice. Bastaria uma palmada e desfar-se-ia a parede de papel. Só que. Era preciso ter vontade de a dar. A palmada. A minha mãe tinha medo de que me caísse em cima o armário dos livros. Aquele grande que tinha no meu quarto, lembras-te. Agora tenho vários. Pus umas prateleiras enormes na parede do escritório. Vou ter de pôr mais. Às vezes penso como será. O nada. Porque me arrasta para baixo da terra um desencorajamento. Sabes. Quando acordamos e pensamos para quê. Quando nos deitamos e pensamos para quê. Tu sabes. Tão grande tão grande tão grande. Estou cansado. Tão. Levava uns livros e deitava-me ao teu lado.
Vou contar-te isto tudo amanhã.
1 comentário:
andré. seu blog me emocionou. incrível como tantas pinturas que vc citou fazem parte do meu repertório mais íntimo e significativo de imagens...
http://raphaelventuri.blogspot.com/
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