9.5.07

A sereia

[Ulisses e as Sereias. Mosaico romano, século III d.C. (Tunísia)]

Com o bronze afiado cortei pedaços de um grande círculo
de cera e amassei-os com as minhas mãos fortes.
Logo se aqueceu a cera por causa da grande pressão
e dos raios do soberano filho de Hiperíon, o Sol.
Besuntei depois com cera os ouvidos dos companheiros.
Eles ataram-me na nau as mãos e os pés, estando eu de pé
contra o mastro; e ao próprio mastro ataram as cordas.
Sentaram-se e percutiram com os remos o mar cinzento.
Quando estávamos à distância de alguém, gritando, se poder
fazer ouvir, a rápida nau navegando depressa não passou
despercebida às Sereias, que entoaram o seu límpido canto.

Odisseia, XII, 173-183
(tradução de Frederico Lourenço)


Não preciso de mãos servis que me encham de cera os ouvidos nem braços que me amarrem a rijo mastro negro porque resisto firme ao canto da sereia que me embala. Mas. Talvez um dia o cansaço me dobre a vontade.

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